Perda x Retorno negativo: Desmistificando o tema

Falar sobre cenário econômico é sempre um desafio complexo e repleto de polêmicas, especialmente na seara do RPPS por tratar-se de investimentos a longo prazo.

A escolha do tema pauta-se na vivência da gestão de recursos, quando observa-se, reiteradamente, muita confusão e dúvidas sobre quando ocorre efetivamente PERDA e quando ocorre RETORNO NEGATIVO.

A priori importa destacar que aplicar é diferente de investir, sendo certo que o primeiro pressupõe retorno a curto prazo e investimento está atrelado a um retorno a longo prazo. O Regime Próprio de Previdência Social é um investidor e compreender essa dinâmica facilita a leitura de resultados de um universo sujeito à volatilidade e riscos de mercado.

É claro que ao investir num determinado produto, espera-se rendimento positivo que vá alavancar sua Carteira, mas isto nem sempre ocorre. E quando o retorno é negativo, deve-se, cautelosamente, traçar estratégias para diminuir os riscos e melhorar a rentabilidade sem perder de vista o viés de que isto somente ocorrerá a longo prazo.

E a máxima se repete: se o investimento traz retorno positivo, o gestor é reverenciado, mas quando o extrato revela números negativo dá-se início a uma grande discussão. É comum que a responsabilidade de rentabilidade negativa de um determinado investimento recaia imediatamente sobre os ombros do gestor. À ele é indagado desde a escolha do investimento ao motivo de permanecer em um investimento que apresenta desvalorização. E tal questionamento vai além de seus Conselheiros e administrados, chegando a ser questionado, inclusive pelos Tribunais de Contas.

Mais grave ainda é quando confundem os conceitos de perda e retorno negativo e aí cabe ao gestor a árdua missão de fazer entender que só está caraterizada a PERDA quando há resgate de cotas que implique em prejuízo contábil ou perda financeira em detrimento do que foi investido. Quando há desvalorização das cotas no mercado financeiro, tem-se o RETORNO NEGATIVO.

Assim, Perda pressupõe resgate e este importa em prejuízo financeiro. Já o Retorno negativo é “deixar de ganhar”, causado pelo impacto da desvalorização de cotas.

Importante destacar que nenhum dos dois fenômenos são, necessariamente, reflexos de atos má gestão. Daí a relevância de compreender a imprevisibilidade, risco e volatilidade do mercado financeiro associado à fatores sob os quais não temos qualquer ingerência, como por exemplo pandemia, guerra, eleições, Copa do mundo, dentre outros. Todos esses acontecimentos impactam na economia, com resultados de valorização ou desvalorização de cotas ou efetivamente em perdas, tarefa nada fácil de ser compreendida por muitos administrados.

Mesmo o gestor diligente, que acompanha rigorosamente o mercado e busca a diversificação de sua Carteira, está sujeito a perda e retorno negativo. Isto porque a valorização e desvalorização de cotas envolve aspectos globais, com forte impacto do cenário politico-econômico.

Acompanhar, identificar, planejar e traçar estratégias é o diferencial para que os riscos sejam mitigados e sua Carteira de Investimentos goze de saúde financeira, apresentando ao final de cada exercício retorno acumulado positivo.

Desmistificando o tema, há perda quando há resgate de cotas e esse resgate equivalha a prejuízo contábil, repita-se. Há retorno negativo quando há desvalorização de cotas e este valor deixa de ser somado ao valor investido.

Evitar perda e driblar o retorno negativo para obter melhor rentabilidade é só mais um dos inúmeros desafios de quem está na gestão de um RPPS, um segmento cujas características são as frequentes alterações, exigindo de seus gestores expertise, perspicácia e dedicação.

A Secretaria da Previdência Social vem desempenhando importante papel no processo de orientação e acompanhamento, não só através de auditoria direta e indireta, mas também por meio da edição de atos normativos e de ações que fomentam a capacitação de gestores, como recentemente definiu regras para a Certificação de conselheiros e dirigentes da unidade gestoras, tema reforçado na Portaria nº 1467/22 e Manuais publicados.

Fato é que equilibrar receitas e despesas não é tema de interesse exclusivo de servidores públicos e governos, mas de toda a sociedade, uma vez que se liga à capacidade de efetivação de políticas públicas que afetam diretamente a vida dos cidadãos. Por essa razão, traduzir essas questões de uma forma simplificada deve ser prioridade, visando sempre difundir o conhecimento sobre temas relevantes a todos aqueles que se dedicam à gestão da previdência social no país.